segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dona Redonda 2

(continuação de outra msg anterior)

Iria e Bruno espreitam pelas grades de um jardim da casa à banda...

Iria - Que esquisito! Nunca vi uma casa assim.
Bruno - Até parece que a gente tem um defeito nos olhos, e vê tudo torto.
Bú pescando de um lago –



Úni, Úni, Úni,
Úni, dois e três,
Eram dois amigos
Compraram uma rês.
Depois dela morta,
Contaram vinte e três.
Úni, Úni, Úni,
Úni, dois e três,
Eram dois amigos
Compraram uma rês.
Depois dela morta,
Contaram vinte e três.



Caracol – Ui! que lá vem a Recantamplana!
Iria - É um cágado.
Recantanplana - U ... é! U ... é! Que é isto? Que é isto?!!!! Visitas! Visitas! Não tem olhos na cara, seu espantalho?
Bú- Espantalho será ela ... Vida de escravo... Nem a gente pode pescar com sossego... Não há liberdade... Mas há-de acabar. Olé! E a Recantamplana há-de ir ao ar com um foguete de sete respostas no rabo! Olé!
Búzi – Bú! Ó Bú!
Bú- Não posso lá ir! Cala a boca! Visitas! ... Queiram Vossas Excelências desculpar. Sejam Vossas Excelências muito bem-vindas. Dignem-se entrar. Aqui as visitas ou entram ou saem, aqui as visitas ou entram ou saem, aqui as visitas ou entram ou saem.
Bruno - Não somos visitas.
Bú - Ah se não são visitas! Então são mendigos. Aqui os mendigos ou entram ou saem, aqui os mendigos ou entram ou saem, aqui os mendigos ou entram ou saem.
Bruno – Não. Não, somos mendigos.
Bú – Ah! não são mendigos! Então são fornecedores. Aqui os fornecedores ou entram ou ... Já não percebo nada.
Bú – Búzi! Ó Búzi!
Búzi -.... Ora essa. Façam favor, façam favor, Excelências. Aqui as visitas nem entram nem saem.
Bruno - Não somos visitas.
Búzi - E que tem isso? Se não são visitas, são mendigos ou fornecedores. Aqui os mendigos e os fornecedores não entram nem saem.
Bruno - Nem visitas, nem mendigos, nem for­necedores. Só queríamos que...
Bú - Vês, Búzi? Aqui é que torce a porca o rabo.
Búzi – Não se fala de porcos sem se dizer “com licença”.
Bú - E tu já trocaste tudo. Não se diz não entram nem saem. Diz-se, ou entram ou saem.
Búzi - Não façam caso, Excelências. Ele não sabe o que diz.Aguesi – Búzi! Búzi! Então a carruagem!


Aguesi - Sejam muito bem-vindos. Queiram entrar.
Baguezi - Não sabemos quem são, mas é exactamente como se soubéssemos. Queiram consi­derar esta casa como sua.
Baguezi - Hão-de Vossas Ex.as notar a originalidade desta vivenda. Os grandes fidalgos hoje em dia têm de inventar sinais que marquem a sua categoria. Assim, pela minha parte, adoptei este sinal: Tudo à banda!
Iria - Pois é. Mas faz tonturas de cabeça, não faz?
Baguezi - Faz, mas é bom que ao entrar no solar de um fidalgo, toda a gente tenha tonturas de cabeça. ... Antes de mais nada, permitam-me Vossas Ex.as que me apresente e à minha ilustre esposa. Eu sou Fernando Augusto Simão Jaime Esculápio Baguezi; e ela é Ana Petronilha Anunciada Ambrósia Jerónima Aguezi. Com isto não é preciso dizer mais nada. Ali na carapaça da Recantamplana estão gravados os nossos brasões reunidos. Lá estão os célebres carneiros de chifres retorcidos dos Aguezis e os memoráveis texugos coroados deste seu criado.
Bruno - O brasão está muito bem pintado e o verniz parece de excelente qualidade.
Aguezi tocando uma campainha - A quem tenho o prazer e a honra de falar?
Iria - Eu sou a Iria.
Bruno - Eu sou o Bruno.
Aguezi - Lindos nomes. E de onde vêm?
Bruno - Vimos de muito longe, de muito longe... Andamos hoje todo o dia a cavalo para chegar a esta floresta.
Baguezi –Vê, Ana Petronilha, vê como a nossa fama anda espalhada pelo mundo? Uma jornada destas para nos virem ver!
Bruno – Hum...
Búzi e Bú entrando
Bú - Vê, Excelência? Eu cá entendi logo que a campainha era para os bolos.
Búzi - Mentira, seu trapalhão! Eu é que disse primeiro.
Bú - E quem se lembrou das groselhas?
Búzi - Já se vê que fui eu, seu intrujão das dúzias.
Bú - Intrujona é você!
Baguezi –Basta!!!!!!!!!!! Espero que não digam mal da afamada hospitalidade desta vossa casa. Em que mais os poderemos servir?
Bruno - Seria grande favor se V. Ex.a nos ensinasse o caminho para casa da Dona Redonda.
Baguezi - O excelentíssimo Bruno ignora ou esqueceu que sob o tecto de um Baguezi esse nome não pode ser pronunciado.
Iria - Porquê?
Aguezi - Os Ex.mos meninos ainda têm muito que aprender. Na casa de um Baguezi ou de um Aguezi só se fala das pessoas que obedecem às regras do bem viver.
Baguesi para a esposa - Anjo!
Bruno - Hum... Nós não sabíamos. Vimos de muito longe. V. Ex.as devem ensinar-nos, dizer-nos quais são os crimes de Dona Redonda.
Baguezi - Eles têm razão. Ana Petronilha, é dever nosso informá-los. Aqui entre nós, a Dona Redonda não é uma senhora ... é uma bola.
Aguezi - Anda vestida de ganga; balandraus de ganga! Não usa chapéu e traz multas vezes os pés nus em sandálias. E isto seja lá diante de quem for!
Baguezi - E tem uma filha adoptiva que faz bonecos de pau sem pés nem cabeça. Sim, senhor! Sem pés nem cabeça!
Aguezi - E... Oh!... Disseram-nos que dançam as duas defronte de casa com um macaco que parece uma mulatinha e que trepa às árvores, e... que horror!... com dúzias de cães de pernas tortas... e com as crianças que adoptam...
Baguezi - E Dona Redonda não tem preceitos nem decoro. Leva tudo a rir. E... conversa com os animais!
Aguezi - Domesticou um dragão que devora tudo que encontra ...
Iria - Um dragão?!
Bruno - Mas não há dragões!
Aguezi - Pois eu já o vi ...



(continua outro dia)

Sem comentários: